sexta-feira, janeiro 01, 2010

'Duas cabeças pensam melhor que uma'




Escrito por Carlos da Terra

sexta, 27 março 2009

Esse chavão, ou dito popular, é sobejamente conhecido por todos; ele tem uma áurea de enganosa realidade. Parece de uma objetividade indiscutível mas como a maioria dos ditos populares, ele não sobrevive à mais tênue análise.
Suponha-se, por exemplo, que um ônibus com vinte ou trinta passageiros, venha sofrer uma avaria complicada e que nenhum dos passageiros, inclusive o motorista, tenha, em sua vida, visto ou ouvido falar, ou mesmo que tenha já tratado de problemas do mesmo sistema. Pode-se garantir que essas vinte ou trinta pessoas jamais solucionarão o problema. Dos questionamentos e sugestões a solução não emergirá, sob qualquer hipótese.
Se não ficou evidente, vamos então supor outra situação. Suponhamos que esses vinte ou trinta passageiros jamais tenham tido qualquer contato, ou sequer que saibam uma só sílaba de um suposto idioma raro e então o motorista resolve dar um prêmio para qualquer um que diga como se diz ou se escreve árvore naquele idioma. A solução não aparecerá de maneira nenhuma.
E assim, os problemas sociais caem no ostracismo, porque as pessoas se cansam de refletir sobre eles, abordando sempre o mesmo prisma.
Se não se muda o ângulo de visão, o resultado será inequivocamente o mesmo e isso não vai significar que o resultado está certo. Pelo contrário; essa teimosia ou ignorância vai custar muito caro para alguém.
Assim foi e continua sendo o caso do seqüestro de menino Carlinhos, no Rio de Janeiro, à mais ou menos uns quarenta anos atrás.
Assim foi e só deixou de ser por um feliz acidente, o caso dos Irmãos Naves que chegaram até a confessar um crime que lhes foi impingido.
E assim está decorrendo o caso da menina Isabela Nardoni;
Haveremos de refletir sobre esse caso para que, pelo menos, não tenha o infeliz destino de outros, como os citados acima.
Ao casal Nardoni, estou plenamente convencido, se fará uma terrível injustiça! Tenho convicção absoluta que o casal é inocente.
Mas como pode o povo e um tribunal, composto por juízes e advogados formados para esse problema, cometerem algum erro. É difícil!
Sim... é difícil, mas não é impossível e também não será a primeira vez.
Desde os tempos de Cristo na terra se cometem esses insultos à razão e recentemente, nos Eua, um homem foi inocentado depois de vinte anos de prisão, porque na época não havia o exame de DNA (ácido desoxirribonucléico).
Como já citamos os irmãos Naves, podemos acrescentar que o povo “clamava por justiça” e pedia suas cabeças.
Após a constatação da inocência, ninguém, praticamente, se manifestou para pedir desculpas, pelo menos.
Vamos e voltamos de um caso a outro, mas o caso Nardoni é de fundamental importância para, pelo menos, tentar impedir um novo e terrível erro.
O que aconteceu?
O laudo pericial foi feito, acredito, corretamente. Nada há contra o laudo.
Porém esse trabalho – como qualquer outro – cinge-se à certos parâmetros e o que se poderia afirmar – talvez com alguma chance de acerto – é que dentro destes parâmetros o casal “parece” culpado. Nada mais que isso.
E porque tantos homens experientes e letrados como os juízes, podem estar errados? Podem ( e no meu entender de fato estão) estar errados porque se basearam todos na mesma premissa.
Não importa, como no caso do ônibus, que tenha tido a presença de quarenta ou cinqüenta peritos e policiais se todos, absolutamente todos, pensavam do mesmo modo e nenhum deles tinha qualquer recurso para raciocinar de forma diferente.
O laudo afirma que “não se detectou a presença de outra pessoa no apartamento”.
Isso não é a mesma coisa do que afirma que “não houve outra pessoa no apartamento”.
Assim, cansamo-nos de ver nos jornais que em determinados lugares grande parcela do povo afirma ter visto óvnis, ou ufos, e o Cindacta e outros órgãos governamentais afirmam que o “radar não detectou a presença de nenhuma nave no local”.
A ciência – como disciplina voltada ao conhecimento -, ela mesma reconhece suas limitações. Afirma muitas vezes que a não detecção de um determinado verme em um organismo não significa que efetivamente o indivíduo não tenha vermes. Significa apenas que na amostra estudada não havia vermes.
Dá para raciocinarmos e extrapolarmos para o caso Nardoni, sem dúvida. Por que?
Porque tanto o povo, quando a perícia e também os juízes estão dando um valor exagerado ao laudo pericial e desprezando os aspectos sociológicos e psicológicos muito evidentes nesse caso.
Os advogados do casal, embora tenham demonstrado coragem ao assumir o caso, demonstram também incompetência para procurar novos rumos e, a exemplo de todos os outros, firmam sua defesa no famigerado laudo pericial.
É evidente que se o crime foi praticado premeditadamente e com objetivos definidos, então, tomou-se o cuidado não apenas de evitar indícios mas também o de plantar indícios que incriminassem o casal.
Deixando-se o laudo à parte, ou pelo menos, dando-lhe apenas o valor que tem, encontraremos inúmeros outros. indícios da e esses corroborando a obscurecida inocência do casal.
Tenho ainda que acrescentar que estou sendo acusado de “defender” o casal e, absolutamente, não estou fazendo isso. Estou apenas aliviando minha consciência e fazendo o que qualquer um pode e deve fazer: expor sua opinião e não calar.
Eu não conheço o casal e nenhuma pessoa ligada à ele.
Como o casal vai a júri popular, a probabilidade de condenação fica aumentada e eu, como todos os que estão lendo esta singela crônica, torcemos por um final menos trágico.


Carlos da Terra




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